- Guilherme Cardoso
Os trens e os bondes em Belo Horizonte

Pouca gente deve se lembrar, só mesmo aqueles sobreviventes dos anos 50, 60 que ainda estão por aí, apesar de tudo, de todos, do governo e da pandemia, que um tempo atrás, não muito distante, no Brasil havia trens de passageiros, bondes e troleibus.
Ligando Belo Horizonte ao Rio de Janeiro tinha o Trem de Prata e para São Paulo havia o Trem de Ouro, como esse que restou, para Vitória no Espírito Santo.
Em Belo Horizonte, onde o transporte coletivo é um desastre, até o início da década de 60 havia ônibus e várias linhas de bondes circulavam pela cidade.
Era o transporte preferido pela população, e o mais barato. Na maioria das vezes nem se pagava. Era só pular do bonde andando e trocar de lugar.
Havia o bonde de Santa Tereza, o bonde de Santa Efigênia, o da Pampulha que se chamava Zoológico, o da Gameleira, o do Santo Antonio, a linha da Cachoeirinha, do Padre Eustáquio, do Bom Jesus e da Cidade Ozanan.
Em 1963 foi extinto definitivamente o sistema de bondes na Capital. Alguns foram vendidos para São Paulo e Recife.
Em seguida chegaram os troleibus, grandes ônibus elétricos, ligados por um cabo a rede de energia. No lugar dos bondes, ciaram algumas linhas como de Santa Tereza e Santo Antonio, e logo depois o serviço foi abandonado para dar lugar aos ônibus que temos até hoje.
Por onde circula hoje a única linha de metrô de Belo Horizonte, que mais parece uma linha de trem, nesse trecho havia trens de passageiros que faziam a liga da Capital com cidades vizinhas como Sete Lagoas, Divinópolis, Betim, Brumadinho, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Nova Lima, Sabará, Pedro Leopoldo e tantas outras pequenas localidades.
Todos os trens de passageiros, chamados de suburbanos se encontravam e faziam parada e mudança de ramal na Estação Ferroviária Central, que pertencia a Rede Ferroviária Federal.
Quando ainda adolescente, lá na Pompeia, a gente juntava uma turma e nos finais de semana, quase sempre aos sábados e ia de trem para Sabará, ora para alugar pés de jabuticaba ou então para ir aos bailes no Clube Cravo Vermelho, dançar e arranjar namoradas.
Naqueles tempos era muito comum a gente que era jovem ir de trem em várias cidades do interior de Minas, e às vezes até de ônibus arranjar namoradas.
Como éramos da cidade, da Capital, a facilidade de arranjar namorada, a filha do prefeito ou a mais bela da cidade era fácil. E se tivesse uma boa conversa e inspirasse confiança, ganhava logo a aceitação dos pais da moça.
É, namorar naquele tempo precisava do consentimento dos pais da moça.
Uma vez por ano também era tradição e quase uma obrigação as moças solteiras de Belo Horizonte irem ao distrito de Roças Grandes, próximo de Sabará para fazerem promessas e pedir a Santo Antonio que arranjasse um casamento.
E quando o santo atendia o pedido de casamento, era necessário a moça já casada voltar a Roças Grandes por muitos anos para agradecer.
A cidade ficava cheia e os negócios prosperavam.
Isto são histórias, casos e causos de tempos inocentes, tempos bons, tempos que não voltam mais.